Brasil

Delator afirma que verba da Petrobras foi usada para pagar viagem da esposa de Collor

Por Folha 24/05/2016 11h11

Uma nova delação revelou aos investigadores da Lava Jato que propina do esquema de corrupção da Petrobras teria sido usada para pagar viagem à Europa de Caroline Collor de Mello, que é mulher do senador Fernando Collor (PTC-AL) e foi denunciadaao STF (Supremo Tribunal Federal).

A viagem ocorreu em julho de 2013, quando Caroline teria recebido US$ 20 mil em espécie. O pagamento foi apontado na delação premiada do doleiro Leonardo Meirelles, ex-sócio do doleiro Alberto Youssef, e compõe a acusação contra o casal no Supremo por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro.

Registros migratórios obtidos pelos investigadores confirmaram que ela viajou para a Europa em julho de 2013, "para onde levou o dinheiro", diz o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A Folha teve acesso à denúncia, que tramita em sigilo no STF. Meirelles entregou ainda aos procuradores extratos de cartões de crédito que comprovariam que a mulher do ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, apontado como operador de Collor, também teve despesas internacionais pagas com recursos desviados pelo esquema na estatal.

Meirelles afirmou que, a pedido de Youssef, carregou dois cartões pré-pagos internacionais com US$ 30 mil cada. O delator informou que "obteve os extratos das despesas com os cartões e verificou gastos no exterior em lojas de artigos femininos, como Victoria's Secret e Louis Vuitton". Os registros de viagens da mulher de Pedro Paulo, Luciana, confirmam viagem a Miami (EUA), também em julho de 2013, mesmo período dos gastos do cartão.

Ao longo da acusação, a Procuradoria diz que Caroline "auxiliava diretamente o marido quanto à lavagem de dinheiro" e cita que, entre 2010 e 2014, ela recebeu em suas contas R$ 453 mil em depósitos em dinheiro.

A Procuradoria apontou ainda que a empresa de comunicação do senador repassou para Caroline, em 45 operações, R$ 622,5 mil, além de R$ 144,6 mil em empréstimos fictícios para justificar aquisição de bens de luxo, em especial veículos e imóveis.

Segundo a Procuradoria, Meirelles também custeou despesas internacionais de Collor que somam € 81.230 (R$ 243,6 mil à época).

As fontes dos repasses, segundo a Lava Jato, eram contratos de troca de bandeiras de postos de combustível celebrados entre a Petrobras e a DVBR Derivados do Brasil, além de contratos com a UTC.

Num complemento da acusação, a Procuradoria fez um ajuste na denúncia oferecida contra o senador ao STF para atualizar o total de propina recebida por Collor por desvios no esquema. A partir de novas delações, como do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o montante passou de R$ 26 milhões para R$ 30,9 milhões.

O esquema vinculado ao senador envolvia além da mulher, assessores do Senado, colaboradores, empresas em atividade e outras suspeitas de serem de fechada. Janot pede que o STF determine a Collor ressarcimento aos cofres públicos de R$ 154,7 milhões.

OUTRO LADO


Procurada, a assessoria de Collor informou que o "senador não conhece Leonardo Mereilles".
"Nem ele nem sua mulher jamais receberam do referido senhor quaisquer valores para gastos no Brasil ou no exterior", afirma a assessoria.

Anteriormente, o senador já havia negado as acusações da Operação Lava Jato sustentando que não teve participação nos negócios da BR Distribuidora e nem recebeu propina por isso.
A assessoria de Leoni Ramos informou que ele "não se manifestará sobre fatos que desconhece e continuará prestando esclarecimentos".