Saúde

Pandemia "escancarou" as más condições de trabalho, diz Conselho de Enfermagem

Profissionais da saúde pedem instituição do piso salarial e jornada semanal de 30h

Por João Arthur Sampaio 12/05/2021 07h07 - Atualizado em 12/05/2021 07h07
Pandemia 'escancarou' as más condições de trabalho, diz Conselho de Enfermagem
Ato de auxiliares e técnicos de enfermagem - Foto: 7Segundos

“O respeito com a gente não passa de aplausos”. Essas foram as palavras do presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Alagoas (Coren-AL), Renné Costa, para lamentar a falta de valorização dos profissionais da categoria, que tem protagonizado um papel importante durante a maior crise sanitária dos últimos 100 anos: a pandemia do novo coronavírus.

Neste “Dia Internacional da Enfermagem”, celebrado nesta quarta-feira (12), os trabalhadores vão às ruas a partir das 9h na Avenida Assis Chateaubriand, no Centro de Maceió, para protestar pedindo a instituição de um piso salarial de R$ 7.315 para enfermeiros; de R$ 5.120 para os técnicos de enfermagem; e de R$3.657 para os auxiliares de enfermagem e as parteiras. Esses valores são baseados numa jornada de 30 horas semanais.

Para Renné, não só a ciência, mas também todos os profissionais de saúde e o Sistema Único de Saúde deveriam ser mais valorizados durante e depois da pandemia. “Nem neste momento crucial a valorização está existindo. A gente está vendo os trabalhadores da área sendo, muitas vezes, agredidos e humilhados. É uma minoria, mas é a realidade. Isso atrapalha a população de ver a importância da categoria”, lamentou.

“O que a gente vê com frequência são trabalhadores, que têm ensino superior, ganhando salários miseráveis. São pessoas que precisam de dois, três ou até quatro empregos para se manterem. É uma área que requer constante evolução de conhecimento. Mas o profissional não tem tempo e nem dinheiro para investir nisso, já que o serviço não oferece educação continuada. Tudo isso reflete na assistência prestada à população”, argumentou.

Na segunda-feira (10), a reunião entre o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), outros parlamentares e representantes da enfermagem terminou sem acordo, pois o líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), não compareceu. A pauta era a discussão do Projeto de Lei 2.564/2020, que estabelece o piso salarial para trabalhadores da rede pública e privada.

O presidente do Coren-AL ainda disse que, de acordo com uma pesquisa de 2015, apenas 16% dos profissionais da saúde recebem um salário superior a R$ 3 mil. “É uma minoria e o PL vem justamente pensando nisso, no trabalhador que só pode aceitar o que é ofertado para ele. É algo que vai devolver a dignidade”.

“Infelizmente, durante a pandemia, quando somos essenciais, ainda vemos resistência da classe política. Imagine quando passar. Não podemos relaxar, temos que aproveitar esse momento, porque se não passar agora, não passa nunca mais. Temos muitas demandas e já existem leis que estão em vigor, mas não são cumpridas”, lastimou, citando como exemplo a questão da aposentadoria especial, por conta dos altos riscos de saúde que os profissionais vivenciam, e do direito a insalubridade.

Caso o PL seja aprovado, Renné explicou que, no primeiro momento, vai gerar um grande impacto para adaptação do mercado, mas, para que não afete muito os cofres públicos, privados e filantrópicos, foi feita uma proposta de escalonamento, diminuindo a carga horária e aumentando o pagamento gradativamente.

O presidente ainda avaliou que a pandemia escancarou as más condições de trabalho, a falta de equipamentos de proteção individual (EPI) e a necessidade da capacitação profissional. "Pelo menos teremos um legado de hospitais melhores estruturados e profissionais capacitados de maneira melhor. Quem faz a saúde é uma categoria multiprofissional, que está somando esforços para salvar a população brasileira".