Justiça

Caso Marcelle Bulhões: advogado de defesa culpa a vítima e descredibiliza Lei Maria da Penha

Cícero Messias da Silva Júnior é acusado de homicídio triplamente qualificado

Por Giulianna Albuquerque 26/05/2025 17h05 - Atualizado em 26/05/2025 21h09
Caso Marcelle Bulhões: advogado de defesa culpa a vítima e descredibiliza Lei Maria da Penha
Julgamento de Cícero Messias da Silva Júnior, acusado de assassinar a farmacêutica Marcelle Bulhões em 2023 - Foto: Ascom MP/AL

O julgamento de Cícero Messias da Silva Júnior, acusado de assassinar brutalmente a farmacêutica Marcelle Bulhões, em 8 de março de 2023 — no Dia Internacional da Mulher — foi marcado por declarações polêmicas do advogado de defesa, José Roberto Andrade de Souza, na tarde desta segunda-feira (26).

Durante sua fala ao júri, o advogado afirmou que Cícero teria apenas reagido a uma suposta agressão da vítima. “Qualquer homem perde a cabeça quando é agredido por uma mulher. Aí ele perdeu a cabeça e fez essa besteira”, disse, tentando reduzir o crime a um momento de descontrole emocional.

Em outro trecho da sustentação, o advogado recorreu a uma alusão religiosa para justificar a conduta do réu: “Só quem levou um tapa na cara e deu o outro lado foi Jesus Cristo. Não tem que empoderar mulher, não. Paciência tem limite”, declarou.

A estratégia da defesa incluiu ainda a tentativa de inverter os papéis de vítima e agressor, afirmando que era Marcelle quem perseguia o acusado. 

O advogado também descredibilizou a Lei Maria da Penha e os mecanismos de proteção às mulheres. “Inventaram que precisava de uma lei, criaram; depois que tinha que agravar, agravaram; depois que a mulher precisava de medidas protetivas, fizeram. E não adiantou nada, porque todos os dias temos mulheres mortas”, afirmou.

Em seguida, a defesa relativizou a violência de gênero, citando uma suposta pesquisa sem apresentar fontes: “É bom lembrar que não é só mulher que é vítima. Há, inclusive, uma pesquisa que informa que a mulher agride mais o homem do que o homem à mulher.”

Na tentativa de afastar a tese de feminicídio, o advogado classificou o crime como homicídio simples: “Meu cliente não premeditou nada. Não fez isso porque agora é uma modinha matar mulher. Não foi isso. Ele não tinha a intenção de matar a moça, foi apenas uma coisa do momento. Como uma discussão no trânsito, por exemplo. A pessoa fica irritada e acontece". 

A juíza Juliana Batistela interrompeu o advogado, repreendendo-o por suas falas. “Eu sou mulher e o senhor respeite as mulheres. O senhor está ofendendo as mulheres e as pessoas homoafetivas. Respeite a família e todas as pessoas que aqui se encontram”, disse.

A sessão do júri popular segue em andamento, com previsão de encerramento ainda hoje.