
O Rio de Janeiro se prepara para viver, neste sábado (3), um momento histórico: o retorno de Lady Gaga ao Brasil com um show gratuito na praia de Copacabana. A apresentação da Mother Monster, como é chamada carinhosamente pelos fãs, promete reunir cerca de 1,6 milhão de pessoas, atraindo fãs de todas as partes do país — inclusive de Alagoas.

Entre os milhares de fãs que atravessaram o Brasil para viver esse momento na capital fluminense, estão alagoanos como o designer gráfico Júlio César, de 28 anos, e o servidor público Reynald Lessa, de 33 anos. Ambos têm uma admiração profunda por Gaga e carregam memórias intensas dessa relação.

A Mother Monster esteve em solo brasileiro pela última vez em 2012, quando trouxe a turnê Born This Way Ball para o Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Júlio guarda com carinho a lembrança de ter visto a artista ao vivo no estádio do Morumbi, em SP — uma experiência única, já que essa foi a única passagem de Lady Gaga pelo país.

“Aquele dia foi mágico. Cheguei o mais cedo que pude e já havia várias pessoas no local. Lá, fiz vários amigos monstrinhos. Foi incrível toda a energia, o palco, as músicas e ela, a nossa Mother Monster. Senti pela primeira vez a sensação de liberdade e de ser quem realmente sou, sem medo de ser feliz ou julgado pelas pessoas”, lembrou.

Brazil I'm devastated
A relação da diva pop com os fãs brasileiros, no entanto, passou por um momento de tristeza em 2017, quando ela precisou cancelar seu show no Rock in Rio por conta de uma crise de fibromialgia, condição que provoca fortes dores nos músculos.
“Fui levada ao hospital, não é simplesmente dor no quadril ou desgaste da estrada, estou com dor severa. Mas estou em boas mãos com os melhores médicos. Por favor, não esqueçam do meu amor por vocês. Lembrem-se de anos atrás quando tatuei ‘Rio’ no meu pescoço, um desenho escrito por crianças nas favelas. Vocês ocupam um lugar especial no meu coração, eu amo vocês”, escreveu Lady Gaga em uma rede social.

Quando o anúncio do cancelamento foi divulgado, a frustração tomou conta do Little Monster (nome dado para os fãs da artista) que já estava no Rio de Janeiro. Júlio lembra o que estava fazendo no momento em que recebeu a notícia.
“Tinha acabado de chegar no hotel, voltando do Cristo Redentor com vários amigos monsters. Estava no banho quando meu amigo falou que era estranho a Lady Gaga ainda não ter chegado no Brasil. Minutos depois, chegou a notícia do cancelamento. Ali mesmo caí aos prantos e não conseguia acreditar. Só quando peguei o celular e vi que era a única notícia que se espalhava, foi aí que caiu a ficha.”

Assim como Júlio César, Reynald também se encontrava no Rio e recorda exatamente onde estava quando soube da notícia do cancelamento da apresentação da cantora no festival. “Eu almoçava perto do Jardim Botânico. Quando li a notícia no celular, comecei a chorar. Meus amigos perguntaram o que houve, e logo depois passou na TV.”

À época, a expressão “Ela não vem mais” se transformou em meme após a divulgação de um vídeo em que uma pessoa grita a frase para os fãs da diva pop, que aguardavam a cantora em frente ao hotel Fasano, em Ipanema, Zona Sul do Rio, logo após o anúncio de que ela não se apresentaria mais. Ao ouvir a frase, um dos fãs reage com um xingamento: “F***-se”.
Além da fibromialgia, Lady Gaga convive com o lúpus, uma condição inflamatória autoimune que pode afetar diversos órgãos e tecidos, como pele, articulações, rins e cérebro.
Todo mundo no Rio
A decepção de 2017 deixou cicatrizes, mas também aumentou a expectativa para o reencontro. Agora, oito anos depois, os fãs da Mother Monster veem sua espera recompensada.
Ao saber que o show deste ano seria gratuito, Reynald ficou feliz — mas também reflexivo. “Fiquei emocionado, claro, mas confesso que prefiro a experiência de um show de turnê. Ainda assim, estou de coração aberto. Só quero viver a experiência. Já vai ser uma grande realização ouvir a Gaga cantar e vê-la de perto.”
Para Júlio, o fato de o show ser gratuito não foi o que mais o surpreendeu. “Isso nem foi um dos pontos principais que me deixou feliz, só em saber que ela viria já me deixou pulando de felicidade. A Mother Monster para mim é um ponto chave para estar vivo hoje. Sua música, sua história de vida e palavras me motivaram a seguir em frente, não desistir e sempre acreditar em você. Hoje sou quem sou por causa dela.”
A viagem para o Rio começou a ser planejada ainda em dezembro do ano passado, ainda quando havia rumores de que a diva pop retornaria em 2025. “Eu e mais dois amigos deixamos um hotel reservado nas datas dos boatos, de 1º a 6 de maio, e aguardamos a confirmação em janeiro. Só deixamos para comprar as passagens mais perto do grande dia e assim foi feito”, disse Júlio César.
Reynald, por sua vez, não perdeu tempo. “Sou prático. Já sei com quem posso contar para essas viagens, então criamos o grupo e organizamos tudo em dois dias depois do anúncio.”
Sobre o que esperam da noite em Copacabana, ambos são unânimes: o momento é de entrega. Júlio sonha com a possibilidade de ouvir Hair, do Born This Way, música que o ajudou a atravessar a adolescência. Mas se não rolar, ele garante que Vanish into You, do álbum Mayhem, último lançamento da artista, também vai arrancar lágrimas de felicidade.
Reynald prefere não fazer planos: “Em 2017 eu queria controlar tudo. Agora só quero sentir o que ela tiver para entregar.”
Enquanto a praia de Copacabana se transforma em palco para um espetáculo que promete entrar para a história, milhares de Little Monsters como Júlio e Reynald já vivem a emoção de um reencontro aguardado por anos.
E neste sábado, Lady Gaga reencontra um público que, mesmo diante dos imprevistos, nunca deixou de amá-la. O Rio de Janeiro será pequeno para tanto amor, e não haverá espaço suficiente para tanto sentimento. Quando os primeiros acordes ecoarem pela orla, não restará dúvida: ela veio sim — e o Brasil nunca a esqueceu.