Em meio as  transformações econômicas e sociais, o artesanato se fortalece como um dos pilares mais autênticos do empreendedorismo criativo e cultural. No Brasil, essa força tem ganhado visibilidade especialmente a partir da valorização das culturas originárias, que encontram no empreendedorismo artesanal uma forma de resistência, de afirmação identitária e de desenvolvimento econômico sustentável. Dentro deste contexto, o artesanato indígena se destaca não apenas pela beleza de suas peças, mas por carregar uma herança ancestral de sabedoria, espiritualidade e conexão com a natureza.

Nos últimos anos, o mercado do artesanato no Brasil tem apresentado crescimento significativo, impulsionado tanto pelo turismo cultural quanto pela busca por produtos que carregam autenticidade, história e propósito. Segundo dados do Sebrae, o setor movimenta bilhões de reais por ano e é um dos que mais emprega informalmente no país. No artesanato indígena, essa dinâmica se intensifica: trata-se de uma produção que vai além do econômico  ela é um grito silencioso de afirmação cultural e sobrevivência histórica dos povos originários. Na Serra do Candará, em Palmeira dos Índios, Alagoas, a Aldeia Coité guarda entre suas palmeiras, raízes e rios, uma das expressões mais belas dessa arte: o trabalho do casal Lourenço Cardoso (indigena) e Erivania Palmeira, (não indigena),  Xucuru Kariri, que fazem do artesanato sua missão, sua voz e seu empreendimento. Juntos, eles cultivam e transformam as riquezas da mãe natureza em peças únicas que representam muito mais do que estética representam identidade, espiritualidade e respeito.

Colares, cocares, pulseiras, brincos, arcos e flechas, maracas e outros elementos tradicionais ganham forma nas mãos do casal, que com técnica e devoção perpetuam saberes ancestrais que atravessam gerações. Cada peça carrega não só elementos naturais, mas também a força da memória coletiva do seu povo. Lourenço e Erivania representam o elo entre tradição e inovação: empreendem não apenas para comercializar, mas para preservar. O trabalho deles reflete o poder transformador do empreendedorismo artesanal quando este se ancora na essência da cultura e no fortalecimento comunitário. Suas criações já atravessaram fronteiras, sendo expostas e vendidas em feiras, eventos culturais e redes sociais, despertando o interesse de pessoas que valorizam o autêntico e reconhecem o valor da diversidade.

Empreender com base no artesanato indígena exige mais do que habilidade manual exige responsabilidade cultural e ética. Por isso, é tão importante que políticas públicas, programas de incentivo e consumidores conscientes compreendam que cada peça vendida é também uma forma de manter viva uma língua, um ritual, uma história. É, sobretudo, uma forma de proteger povos que resistem há séculos em defesa da vida, da floresta e de seus direitos originários. A história de Lourenço e Erivania nos lembra que o empreendedorismo não precisa romper com as raízes ao contrário, pode ser o caminho para fortificá-las. Sua arte é um chamado para olharmos com mais respeito para os saberes tradicionais, para os povos indígenas e para a beleza que nasce quando tradição e oportunidade caminham juntas.

Num tempo em que o mercado busca propósito e autenticidade, o artesanato indígena se apresenta como um patrimônio vivo. E a cada nova peça criada por mãos como as de Lourenço e Erivania, a certeza se renova: empreender com a alma é possível e quando essa alma é ancestral, ela ecoa por gerações.

Por 

Willian Nelson