Atende, mas ninguém responde? Entenda o avanço das 'ligações fantasmas' e seus riscos

Por 7Segundos |

Em tempos de hiperconectividade, cresce um fenômeno inquietante nas telas dos celulares brasileiros: as chamadas fantasmas, conhecidas como ghost calls. Elas tocam por poucos segundos, não apresentam nenhuma voz do outro lado da linha, e ainda assim causam incômodos e riscos que vão muito além do aparente silêncio.

As ghost calls são, na verdade, ligações feitas por sistemas automatizados, conhecidos como bots, com o objetivo de verificar se o número discado está ativo. Quando alguém atende, mesmo que diga apenas “alô”, esse sinal é o bastante para indicar que há uma pessoa real do outro lado. O número, então, é confirmado como válido e pode ser incluído em bancos de dados utilizados por golpistas, empresas de telemarketing e outras finalidades indevidas.

O fenômeno não é novo. Surgiu a partir da popularização dos discadores automáticos, especialmente em operações de telemarketing, que disparavam chamadas em massa para otimizar o tempo dos atendentes. Quando mal configurados ou operando sem controle, esses sistemas passam a fazer ligações sem redirecionamento humano, gerando chamadas silenciosas.

Com o tempo, as ghost calls se tornaram uma ferramenta explorada por criminosos digitais. Usando sistemas de telefonia via internet (VoIP), hackers e fraudadores realizam essas chamadas como forma de escanear redes telefônicas em busca de vulnerabilidades. Além disso, elas podem anteceder golpes como o “one ring scam”, no qual a vítima retorna a ligação e é redirecionada para um número de tarifação especial.

OS PERIGOS POR TRÁS DA LIGAÇÃO SILENCIOSA

Embora pareçam inofensivas, as ghost calls representam uma ameaça real à segurança digital e à privacidade dos usuários. Ao atender esse tipo de ligação, a pessoa corre o risco de ter seu número incluído em listas vendidas a empresas ou grupos criminosos.

Especialistas em cibersegurança alertam que, em muitos casos, o objetivo dessas chamadas é apenas o reconhecimento. Essas ligações silenciosas são uma fase de mapeamento. Ao confirmar que o número está ativo, os golpistas passam a usá-lo como alvo para futuras tentativas, como phishing por voz, envio de links fraudulentos ou engenharia social.

Além disso, há risco de prejuízos financeiros. Empresas que operam com telefonia IP, por exemplo, podem ser vítimas de ataques que sobrecarregam o sistema com chamadas não autorizadas.

Para os usuários comuns, o impacto pode parecer mais subjetivo, mas é igualmente danoso. As ghost calls causam ansiedade, insegurança e podem prejudicar o dia a dia de quem depende do telefone para trabalhar, estudar ou manter contato com familiares. O simples ato de atender o celular se torna uma dúvida constante: “e se for golpe?”

IMPACTO NO COTIDIANO

  • > Validação de número: bots detectam se o número está ativo, iniciando o processo de coleta de dados;

    > Ansiedade: chamadas repetidas, principalmente em horários inusitados, geram estresse;

    > Recolhimento de perfil: ao escutar a voz, sistemas inteligentes podem usar gravações para tentativas de fraude;

    > Perda de oportunidades: medo de atender números desconhecidos leva ao descarte de chamadas legítimas;

  • > Custo para empresas: redes VoIP vulneráveis podem sofrer uso indevido com alto custo em chamadas internacionais. - Violação de privacidade: o número pode ser compartilhado ou vendido sem autorização;

    > Invasões e port scanning: cibercriminosos usam ghost calls para testar pontos fracos em servidores e redes. - Desgaste emocional: o receio constante de golpe torna o uso do telefone uma atividade desconfortável.

O alagoano João Pedro Barnabé, morador do bairro Canafístula, em Arapiraca, é uma das vítimas frequentes desse tipo de chamada. Segundo ele, a situação já saiu do controle. “Recebo de 10 a 15 ligações por dia. Quando atendo, ninguém responde. Comecei a ignorar qualquer número que não conheço. Isso me custou uma oportunidade de trabalho, O RH de uma empresa onde eu queria muito trabalhar me ligou e eu não atendi. Só descobri depois, quando era tarde”, lamenta.

Para o advogado Alexandre Campos, especialista em Direito do Consumidor, a formalização de denúncias é essencial: "Não há, na lei, um limite máximo de ligações por dia para que a procura seja considerada abusiva. Se a pessoa recebe ligações frequentes de telemarketing a nível de atrapalhar a sua rotina, isso pode gerar sim um incômodo. É muito importante que os consumidores façam esse registro".

A orientação de especialistas em tecnologia e segurança digital é clara: jamais retornar uma ligação silenciosa. Muitos golpes contam com esse retorno para concretizar a fraude. Aplicativos de identificação de chamadas, como Truecaller e RealCall, são boas ferramentas para filtrar spam telefônico. Nos smartphones, é possível ativar o bloqueio de chamadas de números não salvos na agenda.

Com base na fala de especialistas, o Portal 7Segundos listou dez dicas para se proteger das ghost calls:

> 1.  Nunca retorne chamadas desconhecidas e silenciosas;

> 2. Habilite o bloqueio de chamadas de números não identificados;

> 3. Use aplicativos de bloqueio e identificação de chamadas;

> 4. Ative o modo “Não perturbe”, permitindo apenas contatos confiáveis;

> 5. Atualize constantemente os sistemas de telefone e segurança de rede;

> 6. Denuncie os números à Anatel (1331) e registre reclamação no Procon;

> 7. Solicite à operadora o bloqueio de chamadas de spam;

> 8. Empresas devem revisar políticas de segurança digital e reforçar proteções VoIP;

> 9. Evite divulgar seu número em sites públicos ou promoções sem verificação;

> 10. Em casos graves, registre boletim de ocorrência e informe os órgãos reguladores.