Arapiraca

Vítimas de padres pedófilos em Arapiraca relatam abusos em programa Conversa com Bial

Além de relatos, trio reclama de como caso foi tratado pela diocese

Por 7Segundos 10/11/2023 16h04 - Atualizado em 10/11/2023 17h05
Vítimas de padres pedófilos em Arapiraca relatam abusos em programa Conversa com Bial
Programa exibiu imagens da sessão da CPI a Pedifilia realizada em Arapiraca em 2010 - Foto: reprodução

O programa Conversa com Bial, que foi ao ar no último dia 08 de novembro, teve como tema a pedofilia na igreja católica e trouxe relatos dos ex-cororinhas Fabiano da Silva Ferreira, Cícero Flávio Vieira Barbosa e Anderson Farias da Silva - que em 2010 denunciaram terem sofrido abusos sexuais por parte de três padres em Arapiraca - para contextualizar esse tipo de crime no país.

Pedro Bial tratou o tema a partir do livro recém-lançado pelo jornalista Fábio Gusmão "Pedofilia na Igreja - um dossiê inédito sobre casos de abusos envolvendo padres católicos no Brasil" e trouxe também as opiniões do padre Alfredo César da Veiga.

De acordo com o livro-reportagem, escrito também por Gianpaolo Morgado Braga, a igreja católica tem no Brasil 108 padres que respondem ou responderam a processo criminal por abuso sexual de 148 crianças e adolescentes. Mas esse número, de acordo com o escritor Fábio Gusmão, é apenas uma fração da realidade.

Em seus depoimentos, os ex-coroinhas relatam como os abusos começaram e o impacto que teve na vida deles. Os três foram aliciados pelos religiosos quando tinham por volta de 11 a 12 anos e teria começado com carícias, que inicialmente pareciam ser inocentes, até se tornarem o "pior pesadelo" como relatou Fabiano Ferreira. O ex-coroinha, que hoje trabalha como representante de vendas em Arapiraca, afirmou que chegou a ter pensamentos suicidas por não saber como sair da situação, até que pediu ajuda a Cícero Flávio Barbosa, outro ex-coroinha, que também sofria abusos.

Flávio, que atualmente trabalha como instrutor de auto-escola, declarou ter tido a ideia de filmar o abuso sexual quando esteve na residente do monsenhor Luiz Marques e perceber que ele estava praticando o ato. "A ideia era depois levar até ele e pedir um basta. Então, comecei a filmar pela janela. Ele estava fazendo sexo oral com Fabiano. Quando ele percebeu que tinha alguém na janela e quis vir para cima, fui embora. Depois procurei o Fabiano pra dizer que tinha sido eu, que nosso sofrimento iria acabar", contou.

Após a gravação, Flávio relatou que ele e Fabiano procuraram o monsenhor Luiz para conversar e então passaram a receber ameaças. "Membros da igreja ligavam dizendo para a gente tomar cuidado, que a gente ia morrer, porque o monsenhor era uma pessoa muito importane em Alagoas", disse.

O policial militar Anderson Farias da Silva, também vítima de abuso sexual por parte dos padres lembrou a repercussão do caso na época, após a reportagem do Roberto Cabrini no SBT, eque culminou com a sessão da CPI da Pedofilia, que teve trechos mostrados no programa e com a condenação criminal do monsenhor Luiz Marques, monsenhor Raimundo e padre Edilson. "Mas para mim, a maior penalidade foi eles terem sido expulsos pela igreja", afirmou o PM.

Atualmente, 13 anos depois do episódio que ficou conhecido como "escândalo dos padres pedófilos", os três ex-coroinhas criticam a falta de apoio dada pela diocese de Penedo. Flávio afirma que eles são vistos como "inimigos da igreja" e que eles nunca receberam reparação ou amparo psicológico da igreja. Já Anderson afirma que, apesar de toda a repercussão do caso, ainda há a intenção de acobertar os abusos que eles sofreram.

"Queria um dia poder me encontrar com o Papa para dizer a ele que o tratamento que a Diocese de Penedo teve com a gente, desde o início, é totalmente contrário de como a igreja católica ensina que devem ser tratadas as vítimas de abuso", ressaltou.